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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Carta aos pais de Rubem Alves

 Meus queridos amigos,

Somente para compartilhar com vocês,e certamente recordar a muitos que já conhecem esse texto.
Leiam para todos aqueles que ainda questionam sobre a INCLUSÃO.
Carta aos pais

Também
sou pai e portanto compreendo. Vocês querem o melhor para o filho, para a
filha. A melhor escola, os melhores professores, os melhores colegas. Vocês
querem que filhos e filhas fiquem bem preparados para a vida. A vida é dura e
só sobrevivem os mais aptos. É preciso ter uma boa educação. 

Compreendo,
portanto, que vocês tenham torcido o nariz ao saber que a escola ia adotar uma
política estranha: colocar crianças deficientes nas mesmas classes das crianças
normais. Os seus narizes torcidos disseram o seguinte: Não gostamos. Não
deveria ser assim! O problema começa com o fato de as crianças deficientes
serem fisicamente diferentes das outras, chegando mesmo, por vezes, a ter uma
aparência esquisita. E isso cria, de saída, um mal-estar... digamos...
estético. Vê-las não é uma experiência agradável. É preciso se acostumar...
Para complicar há o fato de as crianças deficientes serem mais lerdas: elas
aprendem devagar. As professoras vão ser forçadas a diminuir o ritmo do
programa para que elas não fiquem para trás. E isso, evidentemente, trará
prejuízos para nossos filhos e filhas, normais, bonitos, inteligentes. É
preciso ser realista; a escola é uma maratona para se passar no vestibular. É
para isso que elas existem. Quem fica para trás não entra... O certo mesmo
seria ter escolas especializadas, separadas, onde os deficientes aprenderiam o
que podem aprender, sem atrapalhar os outros. 

Se
é assim que vocês pensam eu lhes digo: Tratem de mudar sua maneira de pensar
rapidamente porque, caso contrário, vocês irão colher frutos muito amargos no
futuro. Porque, quer vocês queiram quer não, o tempo se encarregará de fazê-los
deficientes. 

É
possível que na sua casa, num lugar de destaque, em meio às peças de decoração,
esteja um exemplar das Escrituras Sagradas. Via de regra a Bíblia está lá por
superstição. As pessoas acreditam que Deus vai proteger. Se assim fosse, melhor
que seguro de vida seria levar uma Bíblia sempre no bolso. Não sei se vocês a
lêem. Deveriam. E sugiro um poema sombrio, triste e verdadeiro do livro de
Eclesiastes. O autor, já velho, aconselha os moços a pensar na velhice.
Lembra-te do Criador na tua mocidade, antes que cheguem os dias das dores e se
aproximem os anos dos quais dirás: "Não tenho mais alegrias..." Antes
que se escureça a luz do sol, da lua e das estrelas e voltem as nuvens depois
da chuva... Antes que os guardas da casa comecem a tremer e os homens fortes a
ficar curvados... Antes que as mós sejam poucas e pararem de moer... Antes que
a escuridão envolva os que olham pelas janelas... Antes que as pessoas se
levantem com o canto dos pássaros... Antes que cessem todas as canções... Então
se terá medo das alturas e se terá medo de andar nos caminhos planos... Quando
a amendoeira florescer com suas flores brancas, quando um simples gafanhoto
ficar pesado e as alcaparras não tiverem mais gosto... Antes que se rompa o fio
de prata e se despedace a taça de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte e se
parta a roldana do poço e o pó volte à terra... Brumas, brumas, tudo são
brumas... (Eclesiastes 12: 1-8) 

Os
semitas eram poetas. Escreviam por meio de metáforas. Metáfora é uma palavra
que sugere uma outra. Tudo o que está escrito nesse poema se refere a você, a
mim, a todos. Antes que se escureça a luz do sol... Sim, chegará o momento em
que os seus olhos não verão como viam na mocidade. Os seus braços ficarão
fracos e tremerão no seu corpo curvo. As mós - seus dentes - não mais moerão
por serem poucos. E a cama pela manhã, tão gostosa no tempo da mocidade, ficará
incômoda. Você se levantará tão cedo quanto os pássaros e terá medo de andar
por não ver direito o caminho. É preciso ser prudente porque os velhos caem com
facilidade por causa de suas pernas bambas e podem quebrar a cabeça do fêmur.
Pode até ser que você venha a precisar de uma bengala. Por acaso os moinhos
pararão de moer? Não, os moinhos não param de moer. Mas você parará de ouvir.
Você está surdo. Seu mundo ficará cada vez mais silencioso. E conversar ficará
penoso. Você verá que todos estão rindo. Alguém disse uma coisa engraçada. Mas
você não ouviu. Você rirá, não por ter achado graça, mas para que os outros não
percebam que você está surdo. Você imaginou uma velhice gostosa. E até comprou
um sítio com piscina e árvores. Ah! Que coisa boa, os netos todos reunidos no
"Sítio do Vovô", nos fins de semana! Esqueça. Os interesses dos netos
são outros. Eles não gostam de conviver com deficientes. 

Eles
não aprenderam a conviver com deficientes. Poderiam ter aprendido na escola mas
não aprenderam porque houve pais que protestaram contra a presença dos
deficientes. 

A
primeira tarefa da educação é ensinar as crianças a serem elas mesmas. Isso é
extremamente difícil. Fernando Pessoa diz: Sou o intervalo entre o meu desejo e
aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim. Frequentemente as escolas
esmagam os desejos das crianças com os desejos dos outros que lhes são
impostos. O programa da escola, aquela série de saberes que as professoras
tentam ensinar, representa os desejos de um outro, que não a criança. Talvez um
burocrata que pouco entende dos desejos das crianças. É preciso que as escolas
ensinem as crianças a tomar consciência dos seus sonhos! 

A
segunda tarefa da educação é ensinar a conviver. A vida é convivência com uma
fantástica variedade de seres, seres humanos, velhos, adultos, crianças, das
mais variadas raças, das mais variadas culturas, das mais variadas línguas,
animais, plantas, estrelas... Conviver é viver bem em meio a essa diversidade.
E parte dessa diversidade são as pessoas portadores de alguma deficiência ou
diferença. Elas fazem parte do nosso mundo. Elas têm o direito de estar aqui.
Elas têm direito à felicidade. Sugiro que vocês leiam um livrinho que escrevi
para crianças, faz muito tempo: Como nasceu a alegria. É sobre uma flor num
jardim de flores maravilhosas que, ao desabrochar, teve uma de suas pétalas
cortada por um espinho. Se o seu filho ou sua filha não aprender a conviver com
a diferença, com os portadores de deficiência, e a ser seus companheiros e
amigos, garanto-lhes: eles serão pessoas empobrecidas e vazias de sentimentos
nobres. Assim, de que vale passar no vestibular? 

Li,
numa cartilha de curso primário, a seguinte estória: Viviam juntos o pai, a
mãe, um filho de 5 anos, e o avô, velhinho, vista curta, mãos trêmulas. Às
refeições, por causa de suas mãos fracas e trêmulas, ele começou a deixar cair
peças de porcelana em que a comida era servida. A mãe ficou muito aborrecida
com isso, porque ela gostava muito do seu jogo de porcelana. Assim,
discretamente, disse ao marido: Seu pai não está mais em condições de usar
pratos de porcelana. Veja quantos ele já quebrou! Isso precisa parar... O
marido, triste com a condição do seu pai mas, ao mesmo tempo, sem desejar
contrariar a mulher, resolveu tomar uma providência que resolveria a situação.
Foi a uma feira de artesanato e comprou uma gamela de madeira e talheres de
bambu para substituir a porcelana. Na primeira refeição em que o avô comeu na
gamela de madeira com garfo e colher da bambu o netinho estranhou. O pai
explicou e o menino se calou. A partir desse dia ele começou a manifestar um
interesse por artesanato que não tinha antes. Passava o dia tentando fazer um
buraco no meio de uma peça de madeira com um martelo e um formão. O pai,
entusiasmado com a revelação da vocação artística do filho, lhe perguntou: O
que é que você está fazendo, filhinho? O menino, sem tirar os olhos da madeira,
respondeu: Estou fazendo uma gamela para quando você ficar velho... 

Pois
é isso que pode acontecer: se os seus filhos não aprenderem a conviver numa boa
com crianças e adolescentes portadores de deficiências eles não saberão
conviver com vocês quando vocês ficarem deficientes. Para poupar trabalho ao
seu filho ou filha sugiro que visitem uma feira de artesanato. Lá encontrarão
maravilhosas peças de madeira... 

 arta aos pais de Rubem Alves

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