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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por Patricia Almeida

http://www.inclusive.org.br/?p=9011

Preconceituosa, eu?

Patricia Almeida *

Quando minha filha, Amanda, nasceu, há quase cinco anos, eu vivi um dos melhores 
momentos da minha vida. Depois de duas gestações perdidas, a filhinha que tanto 
planejamos e esperamos se materializava ali – linda e fofa como imaginávamos.

O bebê rosado recebeu nota alta dos médicos – Apgar 9 e 10! – e foi direto para 
o quarto, sem precisar ficar na encubadeira. Instalada no bercinho ao lado da 
minha cama, não cansava de olhar para a minha bebê. Eu estava radiante! Aquela 
pequenina criança com que tanto sonhamos vinha completar nossa família. Não 
faltava mais nada para eu ser feliz!

Minha felicidade durou pouco. A pediatra de plantão entrou no quarto. Amanda 
dormia. Eu, ainda com o sorriso estampado no rosto, quis tirar uma dúvida boba 
sobre a aparência da minha filha.

– Doutora, esse olhinho dela não é meio Down, não?

Eu já sabia a resposta, claro que não poderia ser. Como na época eu tinha 39 
anos e sabia que a probabilidade de ter um bebê com síndrome de Down era maior, 
fiz todos os exames, inclusive genéticos, que comprovaram
sem sombra de dúvida que a filha que eu esperava não tinha síndrome de Down. Só 
que ninguém me contou que medicina não é matemática e que erros médicos 
acontecem (aos montes, no caso do laboratório responsável
por meu exame). Por tudo isso, eu não estava preparada para a resposta da 
médica:

- É sim, inclusive ela tem vários outros sinais…

- Como é que é?????????

E foi aí que o meu estado de graça se transformou em desgraça. A pergunta que me 
intriga é: Aonde será que foi parar aquela filha idealizada, fofinha e saudável, 
que se tornou realidade por algumas
poucas horas e acabou se transformando no pior dos pesadelos? Ela continuava 
ali, quietinha, dormindo diante de mim, mas, cega pelas lágrimas do meu próprio 
preconceito, eu não conseguia mais vê-la.

Infelizmente, naquele momento não entendia como eu, comunicóloga da PUC, uma 
pessoa lida, informada, viajada, que falava línguas, que se gabava de ter amigos 
negros, judeus, homossexuais, eu que achava que não discriminava ninguém, achei 
que a minha felicidade e a da minha família iria acabar com a entrada de uma 
criança com deficiência intelectual na família.

Depois de levar cerca de 2 anos desconstruindo o meu próprio preconceito e por 
fim conseguir enxergar minha filha como uma menina como outra qualquer, ao ler a 
pesquisa da FIPE sobre preconceito escolar entendo melhor de onde veio todo 
aquele mal-estar. Eu era uma das 99 pessoas em 100 que têm preconceito com 
relação à deficiência intelectual.

Os perturbadores números da pesquisa encomendada pelo MEC explicam porque até o 
Presidente Obama deixou passar uma piadinha preconceituosa com relação aos 
atletas das Olimpíadas Especiais. Pelo menos ele foi rápido
em voltar atrás e pedir desculpas, reconhecendo o erro e condenando sua própria 
atitude.

Ainda perturbada pela contundência dos números da FIPE, que creio que são únicos 
não apenas no Brasil como no mundo, já que a exclusão das pessoas com 
deficiência começa pelas estatísticas, reflito sobre a nossa educação, nossa 
televisão, nossa cultura, nossa gente…

Aquele que eu achava, ingenuamente, que era um povo aberto às diferenças, que 
recebia bem os turistas porque era formado por várias etnias, 
inter-relacionando-se e misturando-se com uma desenvoltura pouco vista em outros 
países, aquele brasileiro "tão bonzinho", no fundo destila um preconceito 
generalizado, que leva ao desrespeito, ao abuso, ao bullying e impede que os 
grupos discriminados progridam na escola e na vida.

É essa a educação que recebemos e que estamos perpetuando. Nós não nascemos com 
preconceito. Ele é um valor adquirido socialmente. É mais do que hora de 
encararmos esta dura realidade, assumirmos nossos
próprios preconceitos e nos livrarmos o mais rápido possível deles.

A inclusão não é mais apenas um direito. Nem só uma questão de bom senso. É 
nossa única saída.

* Criadora e Coordenadora da Inclusive – Agência para Promoção da Inclusão
Moderadora do Grupo Síndrome de Down
Coordenadora Estratégica do Instituto MetaSocial, do Manifesto Ser Diferente é 
NormalP

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