Desabafo de mãe....
Ao constatar que meu filho é deficiente, revoltei-me muitas vezes,
questionando por que Deus teria me dado tamanho fardo. Não queria nada
de
"ruim" para mim, não conseguia enxergar naqueles primeiros momentos
nada
além da dor. Não "escolhemos" ter um filho excepcional (Down). O
sofrimento,
as alegrias acabam por nos mostrar que escolhemos sim, mesmo que
conscientemente não tenhamos a capacidade para perceber tal escolha,
ela é
designada por Deus ao colocar em nossas mãos tais responsabilidades.
Descobrimos com o passar do tempo que somos escolhidos para um
trabalho,
além de tudo que possamos imaginar, que transcenda uma transformação
pessoal
de humildade, luta e crescimento. Somos forçados a nos envolver com o
outro,
saindo dos meandros de nós mesmos. A tarefa se torna dura, pesada e
conseqüentemente resultiva, desde que nos leve a um aprendizado
constante,
onde crescemos como mãe, como pessoa, enfim, como sujeito, ou posso
dizer
crescimento até mesmo moral e espiritual, já que aprendemos a respeitar
os
limites e capacidades do outro. Mas é claro, onde buscamos o equilíbrio
do
que podemos ou não. Nesse ínterim, às vezes acertamos, algumas erramos,
só
não nos damos o direito de deixar de fazer nossa parte, principalmente
acreditando na capacidade do ser que é colocado em nossas mãos.
Tivemos que reaprender tudo, desde esperar, "brigar", calar e perdoar.
Reconhecer os erros, mesmo que errássemos novamente. Foi assim, caindo,
levantando e tropeçando que fizemos o caminho até aqui.
Sei que nós pais de deficientes temos muito a fazer, não só com nossos
filhos, temos a responsabilidade de mudar o mundo, ou não seria de
melhorá-lo? E esta não será uma tarefa fácil, devemos arregaçar as
mangas e
começar mesmo que ainda pensemos que seja tarde demais ou não
adiantasse
muito...
Adianta sim, somos ferramentas fundamentais para que ocorram as
mudanças no
contexto onde estivermos, podemos ajudar sendo sujeitos de
transformação.
Ouviremos muitas vezes críticas, ou ainda pessoas há nos desanimar, o
caminho se torna às vezes árido, cabe a nós, nos refazermos para
continuar
aprimorando a jornada.
Direciono meu desabafo as mães que usam o luto como forma de justificar
sua
incapacidade de enfrentar seus medos....
Yara Milene, mãe de Flávio que tem a Síndrome de Down, hoje com 21 anos
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